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Contacte-nosA história de Alcanede é repleta de momentos significativos que moldaram a vila ao longo dos séculos.
A vila de Alcanede foi conquistada pelos cristãos em 1163, durante as campanhas de D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal. Este foi um momento crucial na história da vila, pois marcou o fim do domínio muçulmano e a integração da região no Reino de Portugal. A partir desta época, Alcanede começou a desenvolver-se como uma povoação cristã, com a construção do castelo e outras infraestruturas defensivas.
O Castelo de Alcanede foi edificado logo após a conquista cristã, tornando-se uma das fortalezas importantes na defesa do Reino de Portugal durante a Idade Média. O castelo foi ampliado e reforçado ao longo dos séculos, especialmente durante o reinado de D. Sancho I, e desempenhou um papel vital na defesa da fronteira sul do reino.
Durante o século XIV, a vila de Alcanede foi formalmente estabelecida como uma freguesia. A construção da Igreja Matriz de São João Batista foi um dos marcos deste período, simbolizando o crescimento e a importância religiosa da vila. A igreja tornou-se um centro espiritual e comunitário para os habitantes de Alcanede.
Alcanede, como muitas outras localidades portuguesas, enfrentou momentos difíceis durante as guerras e crises económicas dos séculos XV ao XVIII. A Guerra da Restauração (1640-1668), que resultou na restauração da independência de Portugal em relação à Espanha, teve impacto na região, com a vila a contribuir com homens e recursos para o esforço de guerra.
No século XIX, como resultado de crises económicas e sociais, muitos habitantes de Alcanede começaram a emigrar, especialmente para o Brasil. Este fenómeno de emigração marcou profundamente a demografia e a economia da vila, uma vez que muitas famílias ficaram dependentes das remessas enviadas pelos emigrantes.
O século XX trouxe consigo a modernização de Alcanede. A eletrificação, a melhoria das infraestruturas rodoviárias, a construção de escolas e a introdução de serviços de saúde foram marcos significativos neste período. A vila começou a adaptar-se às exigências de uma sociedade moderna, apesar dos desafios de despovoamento e emigração.
A Revolução dos Cravos, que pôs fim à ditadura em Portugal em 1974, teve um impacto profundo em todas as regiões do país, incluindo Alcanede. A revolução trouxe novas liberdades e abriu caminho para a democratização e para o desenvolvimento local. Em Alcanede, tal como no resto do país, houve uma maior participação cívica e o início de um novo ciclo de desenvolvimento.
Nos últimos anos do século XX e início do século XXI, Alcanede começou a investir no turismo e na preservação do seu património histórico. O restauro do Castelo de Alcanede e a promoção de eventos culturais têm sido parte de um esforço para revitalizar a vila, atraindo visitantes e promovendo a identidade local.
Até 2024, Alcanede tem enfrentado os desafios comuns a muitas vilas rurais em Portugal, como o envelhecimento da população e o despovoamento. No entanto, a vila também tem aproveitado novas oportunidades, como o aumento do turismo rural e o interesse crescente em viver fora das grandes cidades, proporcionado pela era digital e pelo teletrabalho.
As festividades religiosas, como as celebrações em honra de São João Batista, padroeiro da vila, continuam a ser momentos marcantes na vida de Alcanede. Estas celebrações mantêm viva a tradição e fortalecem o sentido de comunidade entre os habitantes, ao mesmo tempo que atraem visitantes e reforçam o vínculo com a história da vila.
Antes de começarmos a perorar, mais propriamente, sobre o assunto que move esta crónica, deixamos um aviso. Quem não pode visitar a Mostra Bibliográfica sobre Alcanede e Pernes, que terminou no passado dia 10 de Janeiro, terá nova oportunidade. A mesma exposição rumará a Alcanede e a Pernes, levando às suas origens os manuscritos, os códices e os volumes diversos onde se foi escrevendo a história de tais lugares. Em Alcanede a mostra decorrerá no edifício da Junta. A “reinauguração do evento” está prevista para 8 de Fevereiro de 2014, pelas 16h., um sábado e contará, em conferência inaugural, com a participação da antropóloga Maria Antónia Amaral e dos escritores Joaquim do Vale Cruz e Mário Rui Silvestre. A exposição estará patente até 7 de Março. Depois rumará a Pernes em datas a anunciar.
Nas pesquisas que temos desenvolvido, para enquadramento destas actividades integradas nas Comemorações dos 500 anos do Foral de Alcanede e Pernes, “descobrimos” uma nova “carta de Alcanede” escrita por Padre António Vieira (1608-1697). Na realidade, já se conheciam duas “cartas de Alcanede”, do nosso “imperador da língua portuguesa”, publicadas nos séculos XIX e XX. A primeira missiva, publicada em 1827, cujo original se guarda na Torre do Tombo, data de 10 de Julho de 1679 e foi dirigida ao diplomata Duarte Ribeiro de Macedo. A segunda carta, remetida ao mesmo Diplomata, data de 17 de Julho, foi publicada em 1928 e o seu original guarda-se, em códice, na Biblioteca Nacional. Em ambas as missivas, António Vieira dirige ao seu amigo, sobretudo, preocupações sobre a política nacional e internacional do seu tempo. Quase não se refere aos motivos que o levaram a Alcanede, nem faz alusão às características do lugar, apesar de focar sempre o isolamento que sentia nessa vila, na “eremítica vida deste deserto”. “Nos montes de que está cercado soam os ecos de Lisboa”, queixa-se Vieira da falta notícias e dos atrasos do correio que chegava a Alcanede.
João de Melo Ataíde e Luís de Melo, na sua Nova Monografia de Alcanede exploraram estas cartas, dando a conhecer a um público bem mais vasto a passagem do insigne António Vieira pelas “cercanias da serra da Mendiga”. Equacionando esse “repouso do Padre António Vieira” por Alcanede em Julho de 1679, associaram-no à necessidade do clérigo se afastar das conspirações lisboetas, assim como aos bons préstimos do seu companheiro jesuíta Pedro Jusarte (ou Zuzarte). Este e António Vieira ter-se-ão recolhido em Alcanede em Julho de 1679, não estando claro os motivos que os levaram a escolher Alcanede, em vez de Santarém ou de Pernes, onde, à época, a Companhia de Jesus estava mais estabelecida.
Sabíamos que António Vieira também recebera em Alcanede duas cartas de Duarte Ribeiro de Macedo, às quais faz referência em carta posterior, no dia 28 de Julho de 1679, quando já se encontra nas Caldas da Rainha. Em Setembro desse ano, Vieira retornou a Lisboa, para nunca mais voltar, tanto quanto sabemos, à vila de Alcanede, “à beira serra”. Porém, em 31 de Agosto de 1679, António Vieira estava de novo nas “cercanias da Mendiga”, datando de Alcanede nova carta sua dirigida a Cosme III de Médicis, Grão Duque da Toscana. Esta epístola estava inédita, guardada no arquivo italiano de Firenze, sendo só agora conhecida graças à sua publicação na Obra Completa de Padre António Vieira, incluída, juntamente com as outras que já referimos, no IV volume do tomo I, coordenado por Mary del Priore e por Paulo de Assunção. De facto, esta “terceira carta de Alcanede” é particularmente importante por contribuir para o estudo da relação entre Cosme III e Portugal, mais concretamente por intersecção do próprio Vieira que advogava o casamento deste com a Infanta D. Isabel Luísa de Bragança. A carta consiste num parecer de Vieira, secundado por Pedro Jusarte, a Cosme III para que empregue o escolar Lopes de Ulhoa como lente na Universidade de Pisa. “Descoberta” esta “terceira carta de Alcanede”, não nos parece provável que tenham existido outras, até porque nos três volumes de cartas desta nova e exaustiva Obra Completa não surge mais nenhuma.
O Padre António Vieira repousou em Alcanede, refugiando-se do bulício da cidade e dos que conspiravam contra a sua pessoa, entre Julho e Agosto de 1679. Nessa vila, ao norte do Ribatejo, foi escrevendo, pelo menos, três cartas. De Alcanede para o mundo, primeiro para Madrid, depois para a Toscana, da pena do “imperador da língua portuguesa” correram palavras várias carregadas de anseios, de desejos, de preocupações ou da recomendação de um amigo. Enfim, essas cartas estarão “mais próximas dos homens do que de Deus”, revelando-nos todo um outro tempo de um Portugal restaurado que, novamente, se ia afirmando no mundo, um mundo a redescobrir sob a pena de Vieira.
Historiador
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